CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE CEPAS OPTOQUINA RESISTENTES DE STREPTOCOCCUS PNEUMONIAE. IMPLICAÇÕES NO DIAGNÓSTICO LABORATORIAL

Abstract

Streptococcus pneumoniae é uma bactéria com aspecto morfotintorial de coco Gram positivo, que pode ser encontrada na nasofaringe de seres humano, responsável por grande número de casos de pneumonia em todo o mundo, além de causar doenças como otite média e aguda, sinusite e até mesmo doenças invasivas como meningite e septicemia. O tratamento e a quimioprofilaxia são realizados através de antibioticoterapia utilizando β-lactâmicos, quinolonas e macrolídeos. A optoquina (Opt) é um antibiótico utilizado para a identificação do pneumococo em laboratório através da determinação da susceptibilidade, pois é esperado que cepas de pneumococo sejam sensíveis a esse antibiótico. O estudo teve o objetivo de identificar e caracterizar cepas de pneumococos isoladas de pacientes quanto ao perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos e associação a clones hipervirulentos por MLST e avaliar o uso do teste de Opt para a identificação da espécie. Foram avaliadas 211 cepas isoladas de diferentes estados durante o período pré e pós vacinal de 2006 a 2021. Os isolados previamente identificados como pneumococos pelo CAMP, foram submetidos ao teste de Opt e PCR-ply para confirmação da espécie. As cepas isoladas foram submetidas ao TSA por disco-difusão e CIM. Do total de 211 cepas confirmadas como pneumococos, 24 (11,4%) foram resistentes à Opt, mas confirmadas como pneumococo pela PCR. A susceptibilidade aos antimicrobianos foi de um modo geral de 22,6% de cepas resistentes, no entanto entre as cepas OptR a resistência foi bem superior com 70,6% das cepas. O sequenciamento do gene da ATPase das cepas OptR, revelou mutações pontuais na sequência de nucleotídeos que resultaram em mutações na sequência de aminoácidos dos genes atpB e atpC que podem ter sido os responsáveis pela diminuição da susceptibilidade à Opt. A análise por MLST das cepas OptR, resultou em 7 novos ST e outras cepas com ST já descritos no banco de dados de MLST. A análise por MST revelou uma forte associação de 64% das cepas OptR com o ST-66 sendo então agrupadas no cc66. O cc66 é formado, em sua grande maioria, por cepas isoladas de doenças invasivas (meningites e sepse) e está fortemente associado aos sorotipos 9N e 19A que não estão incluídos na PCV-10 utilizada no Brasil. Entre os ST já descritos, três (ST-737, ST-2880 e ST-7186) foram descritos apenas no Brasil e dois desses ST estão associados a sorotipos que não estão nem na PCV-10 nem na PCV-13, em cepas isoladas de doenças invasivas e respiratórias. De um modo geral, a análise por MLST mostrou que há uma forte associação entre sorotipos e ST e que o sorotipo 19A está particularmente presente em diferentes ST com grande potencial de disseminação no país além de novos sorotipos que não estão presentes na PCV-13 utilizada pelo PNI no Brasil. É de grande importância o monitoramento destes microrganismos com potencial de resistência, e a introdução de novos clones e novos sorotipos, para prevenir possíveis epidemias causadas por microrganismos multidroga resistentes não imunopreveníveis.