CARACTERIZAÇÃO FENOTÍPICA E MOLECULAR DE STREPTOCOCCUS AGALACTIAE GRUPO B (SGB) ISOLADOS DE GESTANTES NO RIO DE JANEIRO

Autores

  • Nicolle Félix Lima Ramos Mestrado Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Vigilância Sanitária, Instituto de Controle de Qualidade em Saúde – INCQS/FIOCRUZ Autor
  • Beatriz Cordeiro Esteves da Silva Instituto de Controle de Qualidade em Saúde – INCQS/FIOCRUZ Autor
  • Emanuele Maximiano Antunes de Araújo Teixeira Instituto de Controle de Qualidade em Saúde – INCQS/FIOCRUZ Autor
  • Marco Antonio Pereira Henrique Bióloga, Microbiologista do Laboratório Neolab Autor
  • Ivano de Filippis Doutor em Biologia Celular e Molecular pela Fundação Oswaldo Cruz-FIOCRUZ Autor

DOI:

https://doi.org/10.64671/ts.v22i2.85

Palavras-chave:

Streptococcus agalactiae (SGB), qPCR-HRM, MLST, Clone hipervirulento, Infecção neonatal

Resumo

O Streptococcus agalactiae grupo B (SGB) é um patógeno oportunista que pode colonizar o trato gastrointestinal e geniturinário de forma assintomática. Estima-se que 15 a 40% das mulheres grávidas estejam colonizadas pelo SGB, que pode causar meningite, pneumonia, sepse e abortos. A linhagem hipervirulenta ST-17 é responsável por 80% a 95% de casos de SGB neonatal. O estudo teve o objetivo de identificar e caracterizar cepas de SGB isoladas de gestantes e pacientes e identificar a possível circulação de clones hipervirulentos por MLST e perfil de susceptibilidade aos antimicrobianos. Foram analisadas 134 amostras isoladas de pacientes e gestantes do estado do Rio de Janeiro, cuja identidade foi confirmada por uma abordagem polifásica utilizando os métodos da qPCR-HRM, Maldi-Tof e CAMP. As cepas isoladas foram submetidas ao TSA por disco-difusão e CIM. Cento e treze cepas de SGB foram recuperadas a partir de 133 amostras clínicas recebidas no laboratório do INCQS/FIOCRUZ. As cepas foram isoladas de secreção vaginal, urina e swab reto-vaginal de gestantes ou pacientes com suspeita de infecção por SGB. A confirmação da identidade dessas cepas foi realizada por três métodos diferentes e nenhum deles foi suficiente para confirmar a espécie em todas as cepas testadas. De um modo geral, a qPCR-HRM apresentou resultados mais consistentes e confiáveis do que os outros dois métodos. A susceptibilidade aos antimicrobianos revelou um número considerável de cepas MDR, com uma alta resistência principalmente ao sulfametoxazol-trimetoprima (100%), tetraciclina (79%), eritromicina (36%) e azitromicina (32%) que representam três classes diferentes de antibióticos. Entre os antibióticos mais eficientes com menor taxa de resistência (≤2%) estão os beta-lactâmicos (penicilina e ceftriaxona), linezolida, rifampicina e cloranfenicol o que apresenta uma possibilidade terapêutica importante. A análise genética pelo MLST trouxe dados importantes sobre a distribuição das cepas analisadas. Foram descritos 6 novos ST sendo três com perfil de MDR. Uma outra cepa também com perfil MDR foi classificada como ST-17. A identificação do SGB pelos métodos convencionais mostrou ser pouco acurada. A inclusão de mais um método molecular (qPCR-HRM) ou proteômico (MT) permitiria uma identificação mais precisa. No entanto, o alto custo inicial da aquisição de um equipamento de MT, dificulta o uso desse método. Em nosso estudo verificamos que a utilização do método convencional CAMP, aliado à qPCR-HRM, seria a melhor escolha custo-benefício para uma identificação mais acurada desse patógeno. Quanto à susceptibilidade aos antimicrobianos, os antibióticos beta-lactâmicos continua sendo a escolha terapêutica, no entanto há uma crescente resistência a outras classes de antibióticos, aliada à relação genética de cepas MDR com o clone hipervirulento ST-17 o que preocupa por sua associação à doença invasiva. A adaptação de cepas com esse perfil e a crescente resistência aos antimicrobianos, tornam o monitoramento dessas infecções imprescindível para a vigilância em saúde, e deve ser implementada em todos os hospitais públicos e privados.

Referências

AFSHAR, B. et al. Devani uk clinical screening study for maternal carriage of Streptococcus agalactiae. 21st European Congress of Clinical Microbiology and Infectious Diseases, Milão, [S.I], p. 7-10, 2011.

ALVES, E. Determinação molecular dos sorotipos capsulares e perfil de sensibilidade aos antimicrobianos em Streptococcus agalactiae isolados de pacientes atendidos no Hospital Universitário/UFSC na cidade de Florianópolis/SC. 2018. Dissertação (Mestrado em Farmácia) - Universidade Federal de Santa Catarina, [S. l.], 2018.

AZAVEDO, J. C. S. et al. Prevalence and Mechanisms of Macrolide Resistance in Clinical Isolates of Group A Streptococci from Ontario, Canada. Antimicrobial Agents and Chemotherapy, v. 45, n. 12, p. 3504–3508, 2001. DOI: https://doi.org/10.1128/AAC.45.12.3504-3508.2001

BELLAIS, S. et al. Capsular Switching in Group B Streptococcus CC17 Hypervirulent Clone: A Future Challenge for Polysaccharide Vaccine Development. The Journal of Infectious Diseases. [S.I], v. 206, p. 1745-1752, 2012. DOI: https://doi.org/10.1093/infdis/jis605

BEITUNE, P. E.; DUARTE, G.; MAFFEI, C. M. L. Colonization by Streptococcus agalactiae During Pregnancy: Maternal and Perinatal Prognosis. The Brazilian Journal of Infectious Diseases. São Paulo, v. 9, p. 276-282, 2005. DOI: https://doi.org/10.1590/S1413-86702005000400002

BOTELHO, A. C. N. et al. A Perspective on the Potential Zoonotic Role of Streptococcus agalactiae: Searching for a Missing Link in Alternative Transmission Routes. Front. Microbiol., Suíça, v. 9, Article 608, 2018. DOI: https://doi.org/10.3389/fmicb.2018.00608

CDC - CENTERS FOR DISEASE CONTROL. Early onset group B streptococcal disease. United States, 2000. Disponível em: https://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/mm4935a1.htm. Acesso em: 12 de agosto de 2021.

CHEN, S. L. Genomic Insights Into the Distribution and Evolution of Group B Streptococcus. Front. Microbiol., Suíça, v. 10, Article 1447, 2019. DOI: https://doi.org/10.3389/fmicb.2019.01447

CIESLEWICZ, M. et al. Structural and Genetic Diversity of Group B Streptococcus Capsular Polysaccharides. Infection and Immunity, v.73, p. 3096–3103, 2005. DOI: https://doi.org/10.1128/IAI.73.5.3096-3103.2005

CORRÊA, A. B. et al. Pulsed-field gel electrophoresis, virulence determinants and antimicrobial susceptibility profiles of type Ia group B streptococci isolated from humans in Brazil. Memorias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 104, p. 599-603, 2009. DOI: https://doi.org/10.1590/S0074-02762009000400011

CORRÊA, A. B. et al. The genetic diversity and phenotypic characterisation of streptococcus agalactiae isolates from Rio de Janeiro, Brazil. Memorias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 106, n. 8, p. 1002–1006, 2011. DOI: https://doi.org/10.1590/S0074-02762011000800017

COSTA AL, et al. Prevalência de colonização por estreptococos do grupo B em gestantes atendidas em maternidade pública da região Nordeste do Brasil [Prevalence of colonization by group B Streptococcus in pregnant women from a public maternity of Northwest region of Brazil], Rev Bras Ginecol Obstet, v. 30, p. 274-80, 2008. DOI: https://doi.org/10.1590/S0100-72032008000600002

DIEDRICK, M. J. et al. Clonal Analysis of Colonizing Group B Streptococcus, Serotype IV, an Emerging Pathogen in the United States. Journal of Clinical Microbiology. 48:3100-3104, 2010. DOI: https://doi.org/10.1128/JCM.00277-10

DUARTE R. S. et al. Distribution of antimicrobial resistance and virulence-related genes among Brazilian group B streptococci recovered from bovine and human sources. Antimicrob Agents Chemother. 49: 97-103, 2005. DOI: https://doi.org/10.1128/AAC.49.1.97-103.2005

DUTRA, V. G. et al. Streptococcus agalactiae in Brazil: serotype distribution, virulence determinants and antimicrobial susceptibility. BMC Infectious Diseases, v. 14, n. 1, p. 323, 2014.

FILHO, D. TIBIRIÇA, S. DINIZ, C. Doença Perinatal associada aos estreptococos do Grupo B: aspectos clínico-microbiológicos e prevenção, HU Revista, Juiz de Fora, v. 34, p. 127-134, 2008.

GHERARDI, G. et al. Molecular Epidemiology and Distribution of Serotypes, Surface Proteins, and Antibiotic Resistance among Group B Streptococci in Italy. Journal of Clinical Microbiology, v. 45, n. 9, p. 2909–2916, 2007. DOI: https://doi.org/10.1128/JCM.00999-07

GOSIEWSKI, T.; BRZYCHCZY-WŁOCH, M.; HECZKO, P. B. The application of multiplex PCR to detect seven different DNA targets in group B streptococci. Folia microbiologica, v. 57, n. 3, p. 163–7, 2012. DOI: https://doi.org/10.1007/s12223-012-0108-7

HEYDERMAN, R. S. et al. Group B streptococcus vaccination in pregnant women with or without HIV in Africa: A non-randomised phase 2, open-label, multicentre trial. The Lancet Infectious Diseases, v. 16, n. 5, p. 546–555, 2016. DOI: https://doi.org/10.1016/S1473-3099(15)00484-3

IMPERI, M. et al. A multiplex PCR assay for the direct identification of the capsular type (Ia to IX) of Streptococcus agalactiae. Journal of microbiological methods, v. 80, n. 2, p. 212–4, 2009. DOI: https://doi.org/10.1016/j.mimet.2009.11.010

JONES, N. et al. Multilocus sequence typing system for group B Streptococcus. Journal of Clinical Microbiology, Washington, v. 41, p. 2530-2536, 2003. DOI: https://doi.org/10.1128/JCM.41.6.2530-2536.2003

KONG, F. et al. Use of phenotypic and molecular serotype identification methods to characterize previously nonserotypeable group B streptococci. Journal of Clinical Microbiology v.46, p.2745-2750, 2008. DOI: https://doi.org/10.1128/JCM.00189-08

LAMY, M. C. et al. Rapid detection of the ‘‘highly virulent’’ group B Streptococcus ST-17 clone. Microbes and Infection, [S.I], v. 8, p. 1714-1722, 2006. DOI: https://doi.org/10.1016/j.micinf.2006.02.008

LARTIGUE MF. et al. Rapid detection of "highly virulent" Group B Streptococcus ST-17 and emerging ST-1 clones by MALDI-TOF mass spectrometry. J Microbiol Methods, v. 86, p. 262-5, 2011. DOI: https://doi.org/10.1016/j.mimet.2011.05.017

LECLERCQ, R. Mechanisms of resistance to macrolides and lincosamides: nature of the resistance elements and their clinical implications. Clin Infect Dis, Oxford, v. 34, p. 482-492, 2002. DOI: https://doi.org/10.1086/324626

LEROUX-ROELS, G. et al. A randomized, observer-blind Phase Ib study to identify formulations and vaccine schedules of a trivalent Group B Streptococcus vaccine for use in non-pregnant and pregnant women. Vaccine, v. 34, n. 15, p. 1786–1791, 2016. DOI: https://doi.org/10.1016/j.vaccine.2016.02.044

LIN, F. C. et al. Phylogenetic Lineages of Invasive and Colonizing Strains of Serotype III Group B Streptococci from Neonates: a Multicenter Prospective Study, v. 44, p. 1257-1261, 2006. DOI: https://doi.org/10.1128/JCM.44.4.1257-1261.2006

LU B et al. Microbiological and clinical characteristics of Group B Streptococcus isolates causing materno-neonatal infections: high prevalence of CC17/PI-1 and PI-2b sublineage in neonatal infections. J Med Microbiol, v. 67, p. 1551-1559, 2018. DOI: https://doi.org/10.1099/jmm.0.000849

MAGIORAKOS, A.P. et al. Multidrug-resistant, extensively drug-resistant and pandrug-resistant bacteria: an international expert proposal for interim standard definitions for acquired resistance. Clinical Microbiology and Infectious Diseases. v. 18, p.268-281, 2012. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1469-0691.2011.03570.x

MANNING SD. et al. Multilocus sequence types associated with neonatal group B streptococcal sepsis and meningitis in Canada. J Clin Microbiol, v. 47, p. 1143-8, 2009. DOI: https://doi.org/10.1128/JCM.01424-08

MARIMÓN, J. M. et al. Erythromycin resistance and genetic elements carrying macrolide efflux genes in Streptococcus agalactiae. Antimicrob Agents Chemother, Washington, v. 49, p. 5069-5074, 2005. DOI: https://doi.org/10.1128/AAC.49.12.5069-5074.2005

MARTINS ER. et al. Analysis of Group B Streptococcal Isolates from Infants and Pregnant Women in Portugal Revealing Two Lineages with Enhanced Invasiveness. Journal of Clinical Microbiology. 3224- 3229, 2007. DOI: https://doi.org/10.1128/JCM.01182-07

MATSUBARA, K.; YAMAMOTO, G. Invasive group B streptococcal infections in a tertiary care hospital between 1998 and 2007 in Japan. International Journal of Infectious Diseases, v. 13, n. 6, p. 679–684, 2009. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ijid.2008.10.007

MELLES, D. C. et al. Comparison of multilocus sequence typing (MLST), pulsed-field gel electrophoresis (PFGE), and amplified fragment length polymorphism (AFLP) for genetic typing of Staphylococcus aureus. Journal of Microbiological Methods, Amsterdam, v. 69, p. 371–375, 2007. DOI: https://doi.org/10.1016/j.mimet.2007.01.013

MOROZUMI, M. et al. Associations between capsular serotype, multilocus sequence type, and macrolide resistance in Streptococcus agalactiae isolates from Japanese infants with invasive infections. Epidemiology and infection, v. 142, n. 2014, p. 812–9, 2014. DOI: https://doi.org/10.1017/S0950268813001647

NASCIMENTO, CILÍCIA SILVÉRIO. Streptococcus agalactiae - Distribuição sorotípica e relação com fatores de virulência e resistência antimicrobiana. 2019. 68 f. Dissertação (Mestrado em Farmácia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019.

NEEMUCHWALA A, et al. Genetic Diversity and Antimicrobial Drug Resistance of Serotype VI Group B Streptococcus, Canada. Emerg Infect Dis, v. 24, p. 1941-1942, 2018. DOI: https://doi.org/10.3201/eid2410.171711

OTAGUIRI ES, et al. Commensal Streptococcus agalactiae isolated from patients seen at University Hospital of Londrina, Paraná, Brazil: capsular types, genotyping, antimicrobial susceptibility and virulence determinants. BMC Microbiol, v. 21, 2013. DOI: https://doi.org/10.1186/1471-2180-13-297

PERME T, et al. Genomic and phenotypic characterisation of invasive neonatal and colonising group B Streptococcus isolates from Slovenia, 2001-2018. BMC Infect Dis, v. 16;20. P. 958, 2020. DOI: https://doi.org/10.1186/s12879-020-05599-y

PINHEIRO, S. et al. Prevalence and mechanisms of erythromycin resistance in Streptococcus agalactiae from healthy pregnant women. Microb Drug Resist, Nova York, v. 15, p. 121-124, 2009. DOI: https://doi.org/10.1089/mdr.2009.0895

PINTO, T. C. A. et al. Distribution of serotypes and evaluation of antimicrobial susceptibility among human and bovine Streptococcus agalactiae strains isolated in Brazil between 1980 and 2006. Brazilian Journal of Infectious Diseases, v. 17, n. 2, p. 131–136, 2013. DOI: https://doi.org/10.1016/j.bjid.2012.09.006

ROJO-BEZARES B et al. Streptococcus agalactiae from pregnant women: antibiotic and heavy-metal resistance mechanisms and molecular typing. Epidemiol Infect, v. 144, p. 3205-3214, 2016. DOI: https://doi.org/10.1017/S0950268816001692

SHET, A.; FERRIERI, P. Neonatal & maternal group B streptococcal infections: A comprehensive review. Indian J Med Res, Índia, v. 120, p. 141-150, 2004.

SILVA, R. S.; VILELA, M. A.; SOLIDÔNIO, E. G. Síndromes clínicas em neonatos de mães colonizadas por estreptococos do grupo B. Repositório Institucional Tiradentes, Universidade Tiradentes, Pernambuco, 2019.

SILVESTRE, INÊS FELIPA PALÃO. Evolução de genótipos de Streptococcus agalactiae associados a colonização na grávida. 2013. 82 f. Dissertação (Mestrado em Microbiologia Médica) - Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2013

Downloads

Publicado

2025-11-19

Como Citar

CARACTERIZAÇÃO FENOTÍPICA E MOLECULAR DE STREPTOCOCCUS AGALACTIAE GRUPO B (SGB) ISOLADOS DE GESTANTES NO RIO DE JANEIRO. (2025). Temas Em Saúde , 22(2), 6-30. https://doi.org/10.64671/ts.v22i2.85